terça-feira, outubro 31, 2006

Episode 5.19 [ Dirty Dancin' ]

Episode 5.19 [ Dirty Dancin' ]

ou "Dança - um espetáculo em três atos"

Sábado:
As pequenas luzes verdes refletiam-se por todo o teto daquela pista de dança enquanto os desenhos produzidos pela luminosidade no breu me faziam viajar pra algum lugar bem longe dali. Era um lugar onde aquela música não tocava e onde era mais fácil respirar. Rodando em círculos, eu não estava mais em mim. Talvez isso tenha durado só um segundo, mas foi o melhor segundo, que me fez ganhar o dia todo e esquecer aquele início de fim de semana preenchido com mau-humor. A luz verde rabiscou a parede e eu já nem sabia mais que horas eram; já tinha me esquecido completamente dos meus trabalhos e das minhas preocupações e até mesmo da minha recente oscilação de estado de espírito. Era só a luz verde bruxuleante. E ela. A mesma que antes havia estado em um dos meus sonhos mais de 6 meses antes. Aquela que eu nem sabia o nome. Aquela que dançava parecendo ouvir os mesmos acordes que só eu conseguia ouvir no salão cheio de gente. Eu não precisava saber o nome dela, nem mesmo tentar falar com ela (até porque eu provavelmente me decepcionaria). Estava feliz só de vê-la se movimentar, como há muito tempo eu não via. E meus sonhos eram pretos, brancos, laranjas e de novo pretos.

Domingo:
Ela era apenas um texto, um emaranhado de palavras na tela do computador. Mas eu juro que podia vê-la. Concreta, alegre, intensa e presente. Seus cabelos castanhos estavam presos e o seu corpo rodopiava, numa coreografia complexa entre as minhas frases. Era só mais um personagem entre as centenas que eu conhecia bem (por tê-los criados a todos) mas tinha sua própria personalidade. E com sua plena obstinação, fugiu também de mim, tirando-me a capacidade de expor sua dança em letras.

Segunda:
No pequeno palco, haviam várias. Mas meus olhos foram imediatamente atraídos para um ponto peculiar, onde a dançarina se expressava. Seu corpo se movia rapidamente, e era tão única e tão emocionada que todas as outras dançarinas pareciam ser a sua sombra. Ela governou o palco e o meu pensamento. Tão firme e decidida, tão bem distribuída em preto e púrpura, tão sincera e sofrida. E outra vez eu me perdi em movimentos. E outra vez...
Talvez eu nunca mais a verei, mas eu imploraria por uma chance de dizer a ela que foi a melhor coisa do meu dia vê-la deslizar no palco ao som do flamenco. Não sei o nome (mas descobriria, se quisesse). E consideraria palavras inúteis, pois qualquer palavra não substituiria a sua dança.

Dirty dancin' - Ritmo quente: um filme inexplicavelmente tocável. Uma história simples transformada em prova de amor, entre Patrick Swayze e Jennifer Gray, com uma trilha sonora espetacular e cenas antológicas. E inutilmente descrita aqui.

Soundtrack: Hungry Eyes, by Richard Marx
"I feel the magic between you and I..."

NOTA: lembre-me de tomar Piña Colada todos os dias da minha vida...

domingo, outubro 22, 2006

Episode 5.18 [ Everybody Says 'I Love You' ]

Episode 5.18 [ Everybody Says 'I Love You' ]

O sol está estranhamente brilhando como numa manhã de primavera. Bem... é uma manhã de primavera, mas ainda não passou das 6. Não passou das seis e eu nem fui dormir. Pensando, postando, escrevendo, sorrindo... conjugando verbos e verbos... lendo. Hoje eu vi a propaganda antiga do Laka. Aquela que toca Cryin' in the Rain que o A-Ha gravou, mas na propaganda não era o A-Ha cantando. E é uma propaganda tão bonita, tão pura, tão tocante. É uma propaganda que me faz chorar. É uma propaganda que traz à tona todas as minhas frustrações com a minha adolescência incompleta. Como eu queria ter vivido mais, mas afinal de contas eu acho que devo mesmo ser diferente. Eu ainda não sei no que exatamente eu errei pra não ter tido um início de adolescência perfeito. Talvez comecei mal mudando toda hora de cidade...
Acontece que me apaixonei na sexta série por duas pessoas diferentes de duas maneiras diferentes ao mesmo tempo. E por outra na sétima série. E por outra na oitava. E por outa no primeiro ano. E por outra no segundo. E por outra no terceio ano (que coincidentemente é a mesma da época da oitava série). Que estranho... só um desses amores realmente se concretizou. E olha que foi bem difícil.
O que será que deu errado? Eu ainda estou tentando acreditar que nada disso é culpa minha e que eu ainda tenho chance. Tudo o que eu fiz nessa vida (exceto uma ou duas coisas) amorosa aleijada foi banal. Tudo realmente trivial. O que ficou, o sentimento verdadeiro, na verdade nunca existiu. E eu ainda passo as madrugadas sozinho na internet esperando cair do céu a minha chance de ouro. E eu ainda espero incessantemente por alguém. Ou não...
Eu leio posts alheios que falam de blogs antigos... e eu entro no meu blog antigo. O terceiro da minha vida (o primeiro não existe mais e o segundo era de cinema). Mais pessoal impossível. Acho que nunca fui tão verdadeiro comigo mesmo quanto na época daquele blog. E foi a época mais feliz da minha vida...

Everybody says 'I love you' - Todos dizem 'eu te amo': uma comédia romântica musical que tinha tudo pra ser normal, mas foi ser um filme de Woody Allen ehehe. Drew Barrymore, Julia Roberts, Goldie Hawn, Natalie Portman e um elenco foda, alguma música e muitos beijos. Não assista, é tortura.

Soundtrack: Inevitable, by Shakira
"el cielo está cansado ya de veer la lluvia caer"

sábado, outubro 07, 2006

Episode 5.17 [ A Dog Day Afternoon ]

Episode 5.17 [ A Dog Day Afternoon ]

Me reservo o direito de acordar de mau-humor e de pisar com o pé esquerdo no chão. Me reservo o direito de dizer "não é nada" quando me perguntam o que foi que houve comigo pra eu ficar assim. Me reservo o direito de passar o dia calado sem que eu mesmo consiga identificar o real motivo. Tem dias que você só quer descansar. E ficar sozinho. E não sentar à mesa no almoço. E não sair com os amigos. Só que simplesmente não está acontecendo nada. Estou na mesma, cada vez mais parecido com o Charlie Brown, ouvindo as mesmas músicas e tendo os mesmos pensamentos. Tentando só fazer o tempo andar mais devagar e protelando as obrigações. Oh, bother...
Mas eu ainda tenho uma idéia na cabeça, uma câmera na mão e um amor eterno, permanente (platônico, é claro).
Me reservo o direito de escrever um post desprovido de sentido ou emoção.

A Dog Day Afternoon - Um dia de cão: Al Pacino protagoniza em 1975 a história de dois ladrões que planejaram realizar um assalto a banco que durasse apenas 10 minutos mas que, 10 horas depois, ainda permaneciam no banco cercados pela polícia, pela imprensa e pelos curiosos de plantão.

Soundtrack: Bad Day, by Daniel Poyter

domingo, outubro 01, 2006

Episode 5.16 [ A Life Less Ordinary ]

Episode 5.16 [ A Life Less Ordinary ]

Remexendo na minha antiga caixa de Lego mais cedo pra poder separar uns bonequinhos pra um trabalho de fotografia, senti repentinamente a alegria infantil que eu tinha toda tarde livre que eu gastei na minha vida construindo um mundo paralelo. Era um mundo perfeito, com romances, super-heróis, monstros e robôs desmontáveis, e algum drama também. Eram os meus primeiros roteiros, imaginados em storyboard com bonequinhos de Lego. Meu sonho era ganhar de natal o resort do Lego que eu via nos catálogos, com um super hotel de luxo, um restaurante. Tudo isso era montado num lugar cheio de pedras e água (que eu, é claro, improvisava com o tanquinho lá de casa). Era o meu cenário preferido para as minhas historinhas. Todos os personagens tinham nomes e conversavam. Cada um tinha a sua história de vida. E cada pecinha era um pedacinho de suas histórias. Tinha o surfista, o rei da praia, tinha a garota que veio da cidade grande, a garota patricinha, a tímida, o cara que trabalhava na oficina mecânica... E tudo era tão simples. Tudo tão encaixável. Mas aquilo que eu criava com pecinhas vermelhas, amarelas e brancas eram mais do que historinhas da cabeça de um menino de 9 anos... eram os meus sonhos, era como eu queria que fosse o meu futuro. Cada um daqueles personagens era tudo o que eu queria ser quando fosse quase um adulto. E veja só o que me tornei. Alguns sonhos ainda existem, embora no fundo eu saiba que nem um décimo deles pode realmente se tornar real. Mas esse texto não é sobre sonhos frustrados, é sobre uma frustração geral com o que eu me tornei. Não que seja ruim, até acho que sou um cara legal e potencialmente feliz. Mas quando você sonha alto demais, você cai. E a queda é inevitável. E é terrível perceber que você, apesar de ser um cara com conteúdo e alguma atitude (deixando de lado a modéstia), seria mais valorizado nesse mundo se fosse o surfista rei da praia. É uma frustração geral com o mundo, que não é um grande resort magnífico com pedras e piscinas. É só uma vidinha que eu aprendi a gostar. E os romances eram tão perfeitos... e as relações familiares, com aqueles conflitinhos de série americana facilmente resolvíveis, mas cujas saídas só se encontra no episódio ou na temporada seguinte... E hoje, cada problema parece ser um pouco maior do que eu pensava que fosse. E os romances nem existem. E os problemas de família são do tamanho de uma pessoa adulta. Talvez eu ainda precise de mais alguns posts (ou dias, ou meses, ou anos...) pra me acostumar com a vida.
O que tenho no momento é uma prova amanhã, um trabalho inacabado, um projeto pra quinta sem tema definido, uma necessidade de um plano B pra minha vida (será que eu tenho um plano A?), um concurso de roteiro, uma insônia alarmante, alguns amigos e uma família legal.

A life less ordinary - Por uma vida menos ordinária: Filme de 1997. Após ser despedido, um faxineiro sonhador resolve reivindicar seu emprego de volta e acaba sequestrando uma bela jovem, que é também a filha do dono da empresa em que trabalhava. Em meio à fuga eles acabam se apaixonando, ao mesmo tempo em que uma dupla de anjos resolve ajudá-los. Dirigido por Danny Boyle (A Praia) e com Ewan McGregor, Cameron Diaz, Delroy Lindo, Holly Hunter e Stanley Tucci.

Soundtrack: Forever Young, by Alphaville