sexta-feira, junho 29, 2007

Daydream - parte II

Aquele foto no porta-retratos havia sido o seu ídolo por muitos anos. Era dois anos mais velho, mas sempre havia sido o seu grande herói. Depois que ele partiu, a vida nunca mais foi a mesma. Sua família se desfacelou aos poucos. Seu pai sucumbiu à tristeza e foi preciso mudar de cidade para fingir melhor para o filho que restara que estava tudo bem, porque aí Nick não poderia vê-lo chorar todas as noites. Apesar de tudo, Nick sabia que seus pais sentiam falta de Oliver. O que não era muito difícil acreditar era que talvez sentiam mais falta de Oliver do que poderiam sentir do próprio Nick.

Mas Sheryl e Trevor nunca seriam capaz de dizê-lo. Nunca.

Oliver era um garoto perfeito de 16 anos. Atleta, popular, inteligente, com um futuro pela frente, esvaziado pela tragédia de um acidente de carro. Depois disso, Sheryl nunca mais deixara Nick dirigir sem carteira. Mas Nick nem sabia dirigir a própria vida a essa altura do campeonato.

Tudo o que mais importava era Laney. Que amaria Oliver pra sempre.

terça-feira, junho 26, 2007

Daydream

a série dá uma paradinha no final do semestre, por causa dos mil trabalhos e provas finais. Mas volta ainda nas férias. Aguarde o próximo episódio. Por enquanto, daydream.

Naquele ano, como em muitos outros, as aulas iam começar no dia seguinte ao seu aniversário. Mas aquele era um aniversário especial para Nick. Não só pelo fato de ter coincidido (fato também não raro) com o dia do Trabalho, mas pelo fato de que faria 15 anos. A idade significava mais coisas para aquele jovem do que para qualquer outro. Eram 15 anos de uma vida de sonhos e vontades, que nem mesmo a dureza da realidade conseguia diminuir. O onirismo de sua vida se encontrava em cada gesto seu, desde que acordava de manhã até o momento em que ia dormir. Era aí que ele sonhava, durante o tempo em que estava acordado. Porque aí sim sonhava um sonho sólido e tinha certeza de que tudo aquilo que vinha durante a noite não eram só desejos inconscientes.
Aos 15 anos, ia começar o colegial. E iria pela primeira vez entrar em Dreamhill High como aluno. E como habitante daquele universo atraente da adolescência. O palco das magníficas histórias que só conhecia pelos filmes e pelos suas próprias histórias, escritas por anos a fio...

sábado, junho 02, 2007

6.09 - The Unbearable Lightness of Being

[ The Unbearable Lightness of Being ]

De vez em quando a gente para pra ver o tanto que a lua está bonita. Principalmente essa semana, de lua cheia, de lua azul, de lua mais iluminada que o normal. Era como se fosse um holofote. Como se emitisse mesmo toda aquela claridade. Aí no dia seguinte o entardecer veio amarelo, tingindo tudo o que era possível por entre as frestas da janela. Sabe aquele amarelo de paisagem de outono? Era ele. Talvez mais bonito porque era real e transpunha o plano das fotografias. Cinco horas depois o céu tinha mais estrelas que o comum para o início de junho. Até o frio resolveu tirar o dia de folga, deixando só o seu rastro fresco, pra construir uma noite bonita.
E a gente vive nesse mundo pensando na vida. Acho que a gente pensa demais no sentido de tudo e deixa passar tardes demais. Pra alguns, a leveza da vida é insustentável, mas não é nela que todo mundo quer chegar? É um paradoxo...
Essa semana o psicanalista me abriu os olhos e me fez querer estudar Freud e Foucault. Só pra depois voltar e ver como Nietzsche estava certo.
No filme, a mocinha era o contraponto do médico, o tal sujeito da existência leve. De certa maneira, era ela que insustentava a situação. A vida dela era mais do que um contorno imutável que não se pode colorir. A vida dela era cheia de questionamento, porque ela amava. Aí que confirmei minhas hipóteses de que, para quem não se preocupa em saber quando, como, onde e por que, é bem mais fácil amar (e viver). Porque pra esses, amar é físico, um ato narcisista. É tão incomum que chega a ser ousadia esse amor ser chamado amor.
Mas no final a gente vê que a vida pode ser leve sim. E sustentável. Mas que sorte a de quem consegue encontrar quem amar! Mas que sorte a de quem não deixa passar uma tarde de outono! MAs que sorte a de quem sabe o que é uma lua azul e para pra olhar pra ela! Com ou sem Platão e o seu amor.

Dica de locadora: The unbearable lightness of being (A insustentável leveza do ser) - baseado no livro de Milan Kundera, o filme é gigante, mas traz como protagonistas três dos mais complexos personagens, mesmo que pareçam estereótipos no primeiro momento. O filme abusa dos espelhos, sombras, projeções e reflexos, só pra dizer que até que é possível sustentar a leveza...
Citação: "Hello, stranger" (Natalie Portman, Jane Jones em Closer)
Trilha Sonora: Felicidade Urgente, by Claudio Zolli