segunda-feira, março 31, 2008

6.20 - Summer of '42

[ Summer of '42 ]



Sabe aquela nostalgia de coisa que a gente não viveu? Aquela saudade de danças, bares e olhares. De décadas que vieram antes mesmo de eu nascer. Aquele sentimento de querer abraçar os amores perdidos, que se dissolveu nos caminhos do tempo. Como diriam os Beach Boys, acho que não fui mesmo feito pra estes tempos. Tenho saudades de carros e toca-fitas, de twists e colégios. Eu me apego aos anos que nunca me pertenceram só pra ter a chance de ouvir de novo as músicas que um dia não tocaram pra mim. Be my little baby.

Aqueles anos, que eu não vivi, são os meus anos incríveis. É pra lá que eu vou toda vez que a realidade e o presente vêm em um embrulho feio e sem enfeites. É pra lá que eu quero voltar, é lá que eu quero ter raio de sol num dia nublado, e quando estiver frio lá fora, eu vou querer o mês de maio.

Todos os trechos são, na verdade, a letra de uma música só, que estará para sempre no toca-fitas do carro do meu pai. Numa época em que as noites tinham drive-ins, milk-shakes, batatas fritas, e uma juventude transviada, rebeldes sem causa. Em anos sessenta de setenta amores, cinqüenta foguetes festejam oitenta alegrias.

Porque quando um homem ama uma mulher, ele não pode pensar em mais nada. Nem em reis e em Charles, nem rainhas e Carlies. Como é que eu posso me fascinar tanto com alguém que está sob a minha pele, com a cabeça no meu ombro que nunca foi.

What can make me feel this way?
My girl…

The Platters - Smoke gets in your eyes


They asked me how I knew
My true love was true,
I of course replied, something here inside
cannot be denied.

They said “some day you'll find,
All who love are blind”
When you heart's on fire, you must realize,
Smoke gets in your eyes.

So I chaffed them, and I gaily laughed,
To think they would doubt our love,
And yet today, my love has gone away,
I am without my love.

Now laughing friends deride
Tears I cannot hide,
So I smile and say, when a lovely flame dies,
Smoke gets in your eyes,

Smoke gets in your eyes

Dica de locadora: Summer of '42 (Houve uma vez um verão) - é um clássico e inesquecível filme. Baseado no livro e no roteiro de Herman Raucher, considerados por muitos como autobiográficos, o filme conta, com extrema sensibilidade, o despertar de um jovem de 15 anos para o amor, durante suas férias numa pequena ilha da Nova Inglaterra no verão de 1942.
Trilha sonora: Smoke gets in your eyes - The Platters

quarta-feira, março 19, 2008

6.19 - Sunset Boulevard

[ Sunset Boulevard ]


Durante todo o percurso, cada palavra ecoava e invadia minha mente, como se o fone de ouvido fosse, durante aquela tarde, parte do meu corpo. O que eu ouvia não era seqüência de notas, acordes e vozes, era algo mais intenso, mais completo, como se fosse possível ouvir ágape.
Foi então que eu olhei pra cima. O que eu enxergava não era o caminho usual de todos os dias do trabalho de volta pra casa, e sim o princípio do pôr do sol por entre as árvores. Os desenhos que fazem os galhos nunca foram tão bonitos quanto nessa época do ano, desfolhados mas muito vivos. Lembrei de vidas, vidas passadas? Tardes em clubes, esperando pela hora da aula, sentindo o cheiro de piscina enquanto brincava no balanço.

E tudo isso também era ela. Cada memória tornou-se um pouco do que são os seus cabelos, que eu nunca senti entre os meus dedos. A tarde era ela, porque ela era eu, pelo menos naquele instante. E eu aprendi num livro que um instante é o máximo que se pode esperar da perfeição. O sentimento ainda é criança e não aprendeu a falar.

Someday you will find me caught beneath the landslide
In a champagne supernova in the sky

Foi aí que eu comecei a cantar os versos alto. Mais alto do que eu geralmente canto, como se o mundo inteiro usasse o meu fone de ouvido. Os olhares de algumas pessoas passando por mim, espantadas, não me atingia. Porque era tudo tão harmonioso que eles pareciam entender minha necessidade de cantar, enquanto andava olhando para cima. A letra não importava mais. As entrelinhas transcenderam a profusão do momento.

O que as pessoas viam é o que eu não posso negar: sou mesmo estranho. Elas viam um garoto magro demais, com um corpo desajeitado e desproporcional, escondido sobre uma camisa grande e uma calça verde dois números acima, como eu sempre costumo usar. Nos pés, só o meu all-star todo preto, que ainda não combina com nenhum all-star azul. O que as pessoas viam é problema delas. Pra mim, era só céu e ela.

Quando a música mudou eu já tinha alcançado a avenida. Demorei mais do que o de costume para atravessar, como se estivesse adiando o momento de voltar para a vida real. Carros, bicicletas, beijos e casais, estudantes e revolucionários. Dentro de cada um uma história pra contar. Confesso que naquele instante, pouco me importava o resto do mundo. Só queria saber da minha própria história que ainda não está escrita.

O universo todo só existe para estar em volta dela. Será que ela sente quando ele a abraça? É tudo intenção. Porque eu também sou universo. E giro na órbita dela desde o primeiro dia. Com força instável e incontrolável, exaltada pelo álcool ou simplesmente pelo rastro do que ela é, que chega e fica.

If I could change the world, I would be the sunlight in your universe
And you would think my love is really something good
Baby, if I could change the world…

Opiniões são muitas. Como diria o Cazuza, me chamam de ladrão, de bicha, maconheiro. Às vezes algumas opiniões me atingem, mas na maioria do tempo, eu só quero continuar andando e cantando. Só quero continuar inventando meus amores e sendo acordado todos os dias pelo brilho da existência deles. Se acham grandes demais o meu nariz ou minha calça verde, que comecem a se acostumar. Se acham que eu sonho demais, me deixem atravessar a vida dormindo. Pelo menos no sonho ela está comigo.

What can I do? I fell like the color blue.


Dica de locadora: Sunset Boulevard (Crepúsculo dos deuses) - Um roteirista em fuga de credores termina por se esconder na casa de uma estrela do cinema mudo, que resolve contratá-lo para revisar o roteiro que marcará seu retorno às telas. O roteiro era insuportável, mas o pagamento era bom e ele não tinha o que fazer. No entanto, o que o destino lhe reservava não seria nada agradável.
Citação:
Trilha Sonora: I'll be there for you, by Bon Jovi