sábado, novembro 22, 2008

7.08 - Le Mépris

[ Le mépris ]

antes de qualquer coisa: esse post não é sobre situações específicas, vivenciadas ou meio-reais. É ficção baseada em observação da vida ALHEIA. Qualquer coincidência é mera semelhança. Mesmo.


"
Você sabe o que é o desprezo?"*. Foi o que perguntou João Luciano Ferreira Júnior, ex-aluno da Faculdade de Letras da UFMG à amiga e amada professora Polyana Arantes, antes de atirar contra a própria cabeça três meses atrás. Eu, por exemplo, não conheço esse desprezo aí de se matar ou de se morrer. Mas confesso que já senti na vida um pouquinho do que poderia vir a se tornar uma coisa bem parecida. E desprezo é coisa que não é boa de sentir, nem para o desprezante e nem para o desprezado. Desprezo é o sentimento contrário à afeição, que vai além da indiferença e fere mais do que a ira (momentânea que é). Ele pode vir de qualquer lugar e ir para qualquer outro, por qualquer motivo. E é perigoso quando se aproxima. "Despreza tudo, mas de modo que o desprezar te não incomode. Não te julgues superior ao desprezares. A arte do desprezo nobre está nisso", já dizia Fernando Pessoa. Da implicância até o desprezo há um longo caminho, que passa pela raiva, não necessariamente.

Coisas bem diferentes são a obsessão, a teimosia e a dificuldade de superação. Transpor esses obstáculos viciosos é pra poucos... Dons preciosos, que nem mesmo um terço das pessoas, para citar a famosa proporção, possuem. Normal, simples assim, cada um lida como pode, como sabe, como quer. Tão subjetivo quanto o próprio olhar. Auto-destruição e sofrimento por opção é coisa de gente imatura. GEnte que persiste, apesar de todas as mãos que tentam puxá-los pra cima, em ficar lá no fundo do poço, conservando uma alegria ilusória em forma de escudo. Não que não sejam felizes ou sinceras as alegrias e momentos dessas pessoas. Mas há algo de vil nesse olhar. Há algo de extremamente cruel e desumano em disparar tiros de negatividade.

As pessoas são bem assim... umas superam, outras não. As que não conseguem, bom... dessas já não sei. Às que o fazem, basta ter paciência e esperar até que o outro também possa. Mas algumas vezes, a paciência é tão limitada quanto o círculo vicioso das convicções de quem não pode superar. Falta de paciência leva à implicância. A apenas algumas milhas do desprezo. Desse daí, não tem volta.

Le mépris (O desprezo) - Aclamado pela crítica e considerado um ds melhores filmes de Godard e da Nouvelle Vague, com Brigitte Bardot. Michel Piccoli é Paul Javal, um roteirista que vai para Roma trabalhar numa adaptação de A Odisséia, de Homero, que o diretor Fritz Lang está rodando na cidade. Paul é casado com a bela Camille (Bardot) e se arde de ciúmes quando ela aceita uma carona do produtor do filme, Jeremy Prokosch (Palance). Camille despreza Paul. E eles nem terão tempo de superar...

*A fala foi retirada de um site onde se lê uma matéria sobre o caso, levando em conta os laudos do inquérito.



quarta-feira, novembro 12, 2008

7.07 - Running with scissors

[ Running with scissors ]


Ontem eu senti assim uma tristeza mesmo, sabe? Não daquelas tristezas concretas por causa de uma coisa específica, nada disso. É daquelas angústias que vêm sem avisar antes. O pior foi descobrir que talvez fosse só uma conclusão. Quando tristeza é conclusão, é porque a coisa tá feia. E lá, no supermercado, mil sacolas na mão, cesta pesada, esqueci o que estava procurando entre as pratelerias. Fazer compras tem sido um hábito solitário, talvez o mais solitário que realizei nos últimos anos. Eu simplesmente não consigo encontrar o que eu estava procurando, mas não por ser indeciso e sim pelo perfeito oposto: eu sei exatamente o que quero, sempre. Só que essa coisa nem sempre existe. Daí eu insisto em ficar insatisfeito procurando em lugares que eu sei que não vou encontrar.
E hoje, a agonia voltou. Enquanto apresentavam o trabalho lá na frente da sala, uma insuficiência tomou conta. Sempre detestei minha própria mediocridade, mas agora cansei dela. Cansei de simplesmente não ter o mesmo fascínio pelas coisas belas do que gente que eu conheço. Não consigo fazer por merecer, não consigo ser brilhante no que eu quero ser, só esporadicamente naquilo que me vem naturalmente. Em vez de ler o texto, eu sempre prefiro dormir. Por que é que eu não consigo?
Postergar tem sido minha palavra de ordem. Deixar sempr para a última hora, que nem sempre é suficiente. E então me deito sobre a mediocridade. E nem adianta nivelar por baixo. Sei, tem gente pior do que eu. Sei, tem gente melhor. E daí? Eu meio que ligo muito pouco para o mundo, tem sido assim ultimamente. O mundo é bobo, hipócrita, só umas 4 pessoas que eu conheço possuem opiniões que valem a pena ser ouvida. No máximo. Cansei de opiniões. Gente defendendo teses, que coisa mais estúpida. Odeio gente boa de serviço.
Eu descobri que o que eu mais odeio na vida é fila. E preencher formulários. E calor. Aff, calça jeans no calor. Mas ainda pior é opinião alheia. Me perguntaram outro dia por que é que eu to com tanta preguiça do mundo. Eu digo e repito: a culpa é do mundo mesmo. Não tem nada de errado comigo. Quer dizer, tem sim.
Dentro do provador da loja de roupas eu vi, pelo espelho, que minha cabeça tem um formato estranho. POr que será? Tipo, impossível simplesmente trocar de cabeça. Impossível até fazer plástica. Não que eu queira, mas é mesmo estranha. Uma coisa não parece combinar com a outra. E nada faz sentido em conjunto. Eu só consigo fazer sentido olhando de dentro, daqui mesmo de onde eu olho. Por isso que eu queria ser um eremita. Eu queria me bastar. Ou então que as pessoas fossem cegas.

E as risadas esparsas do dia a dia são só pra não viver em dor.
Queria é fazer um filme. Acho que vou começar um roteiro. OU então ler O apanhador no campo de centeio de novo.




cansado de padrões.