sábado, abril 25, 2009

7.14 - L'avventura

[ L'avventura ]


Será que já foi tudo escrito? Tudo o que tinha de ser, sobre qualquer coisa? Por que é que eu não consigo mais terminar um texto pra postar aqui que não seja idêntico a qualquer um que eu já tenha postado? O calendário vai me dando algumas pistas do motivo.

É o motivo que eu respiro quando insisto em abrir os olhos de manhã, contrariando cada polegada cúbica de sono que ainda habita sobre minha cabeça. É o que me faz administrar e ponderar, e tornar o verbo "abdicar" cada vez mais cheio de sentido em minha consciência. É a consciência, afinal, do que pode ser e não ser, com clareza quase nítida das consequências de cada ato, embora a surpresa cotidiana ainda se faça açucarada em meu paladar.

É o meu motivo de acreditar ou duvidar, de sentir ou pensar, percebendo que há poucos limites entre os extremos, ou que simplesmente eram só pudores infantis. Não é hora pra ter menos indagações e mais surpresas, mas já é tempo de transformar os pontos de interrogação e as reticências deixadas pra trás ao longo da vida em pontos finais. Ou, ao menos, vírgulas (quisera exclamações!).

O motivo que me faz ter ideias concretas, tornando-as sonhos e, logo, planos. Descarto facilmente as utopias, mas mantenho esperanças. Expectativas em relação à vida. Por causa desse motivo, gosto mais quando a janela do quarto fica aberta enquanto a noite fria entra em flechas de ar. Por causa dele, encontro mais sinônimos, descubro mais ligações lógicas na poesia da humanidade.

Esse motivo me ensina que é difícil ser o melhor, mas que dá pra ser a gente mesmo, e se destacar dessa maneira. Ele me diz qual direção seguir, qual ônibus pegar pra voltar pra casa. Ele me ensina a sempre ter uma garrafinha d'água na mochila, e levar guarda-chuva mesmo com o estio mórbido anunciado. Ele me conta, de noite, qual é o momento certo, e me dá deixas.

O motivo me mostra pavios, mas esconde se eles vão incendiar velas ou explodir dinamites. São todas as escolhas que a gente faz. Trocando a festa pelos textos, trocando uma cidade por outra, trocando a calma certeira pela duvidosa agitação. O motivo que me impede de escrever é o mesmo que me mostrou, e continua insistindo a cada dia, que o importante não é o destino e sim a viagem - como se eu não soubesse.

Por causa desse motivo, eu durmo mais cedo quando sei que preciso. Ou mais tarde, quando acredito que posso. E por causa deles eu insisto em tomar decisões erradas, pelo prazer inconsciente da experiência. É o motivo pelo qual vou abandonando sem querer as emoções voláteis da adolescência. É o motivo pelo qual eu aumento de tamanho, sem mudar minha estatura. E que me faz sorrir ao olhar pela janela, ainda.

São as estações dando voltas. E eu sei que, no final, o outono sempre vai chegar. E trazer frios às noites. E folhas secas imaginárias para a gente pisar e fazer barulho. E não mudar apenas um dígito nos meus dados eletrônicos, mas trazer um pouquinho mais de juizo. É por causa dele que decidi parar de escrever neste blog.

"atenção, tudo é perigoso, tudo é divino, maravilhoso!"

Que eu possa ter a serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar, coragem para modificar aquelas que eu posso, e sabedoria para distinguir umas das outras.


to be continued...

domingo, abril 12, 2009

7.13 - Nick and Norah's Infinite Playlist

[ Nick and Norah's infinite playlist ]
ou como aprendi a gostar de Kid Abelha, The Cranberries, Legião Urbana e Guns N'Roses com meus irmãos

Das características mais valiosas da minha própria personalidade, o ecletismo é a que mais prezo. Assim mesmo, sem nenhuma ressalva de modéstia, gosto de gostar de opostos, como diria o poeta. Não porque acho que é bacana ou cool exercer a tolerância, para que me vejam um pouco mais legal, nem mesmo para tentar, com meus gostos diversos, agradar grupos igualmente diversos de opiniões. Certamente não é pra me aproximar dos góticos new wave do mundo que The Cure é um dos temas da minha vida. Nem mesmo pra exibir minha bagagem cultural sofisticada que escuto os acordes aranhados de João Gilberto. É uma satisfação pra mim mesmo, e só pra mim, poder escutar, na mesma madrugada, uma power balada metal e uma moda sertaneja.

Sim, considero o ecletismo consciente uma preciosidade hoje em dia. Dias em que não há tolerância, nem mesmo entre os que se dizem mais cultos, por torcerem o nariz para o gosto musical do outro. Como fosse decepção descobrir que um amigo, tão notável por sua coleção de vinis da Maria Bethânia, também conservar nos armários um álbum da Blitz. E não, recuso-me a achar engraçado gostar da Blitz ou de qualquer dessas bandas-piada que os anos 80 trouxeram para as terras e palcos brasileiros. Talvez - provavelmente, eu diria - haja graça nas letras, que despertem os sorrisos amarelos dos conservadores que escondem suas intolerâncias musicais preconceituosas, mas não há motivo de riso no gostar em si. Gostar é sentir.

É mais do que possível sentir um milhão de coisas ao mesmo tempo, gostar de um milhão de coisas ao mesmo tempo. Contradições psico-comportamentais? Eu chamaria de riqueza. De virtude. E não falo aqui daquelas pessoas que porventura gostem de tudo o que a indústria fonográfica lhes oferecem, como uma enciclopédia de tudo que há no rádio. Nelas não vejo culpa, apenas um pouco de preguiça. Eu falo sobre quem é fã, ao mesmo tempo, de Menudo e Guns N' Roses. Antes que possam encontrar absurdos em minhas palavras, eu digo que é possível.

É por isso que eu respeito o que eu não gosto, que em termos mundiais, é muito pouco. Se falo mal de um tipo de música, quase sempre é por brincadeira. Reservo-me apenas o direito de não gostar de bandas (leia-se cantores/artistas). Sobre as músicas, é atitude mais do que sensata considerar a todas como uma só arte. Existe arte em cada intento de melodia. É por isso que quem prega o conservadorismo de uma música culta ou mais sofisticada tem uma mente tão pequena quando o intervalo entre duas notas em um chorinho.

Quando tenho que responder sobre minhas preferências musicais, quase sempre hesito, pelo simples fato de que é impossível para mim escolher as músicas de que mais gosto. Há muito deixei cair por terra as etiquetas que insistem em rotular estilos musicais e hoje, não digo que abomino axé music, funk ou sertanejo. Há muito desacreditei nos preconceitos (bons e ruins) que cercam a música que chamam de emo, ou folk rock, ou o diabo-a-quatro que contiver algo além de baixo, bateria e guitarra. Digo, sem timidez, que gosto de música boa. Se The Beatles é hoje a banda que me traz mais satisfação auditiva, amanhã posso gostar menos. Como acontece, de fato. Cada dia minha playlist é diferente, porque meu HD torna-se pequeno demais para suportar minha playlist infinita.

Se um dia eu tivesse uma banda e pudesse escolher despudoradamente o meu repertório, eu pagaria pra ver um show meu. De novo me desapego da modéstia pra dizer que não há fronteiras para as músicas boas. Posso me identificar com os vocais de grande extensão e com os cabelos longos das bandas de hard rock dos anos 80/90, como posso encontrar valor nos arranjos bubblegum-pop de boybands, lampejos de poesia nas melodias country americanas. Em qualquer campo da sociedade - seja na literatura, no cinema, na internet - intolerância é pior do que burrice.

Um pouquinho da minha playlist, neste exato momento:

Bon Jovi - You give love a bad name
Mr. Big - To be with you
The Beach Boys - I get around
Xuxa - Doce mel
Os Paralamas do sucesso - Ela disse adeus
Caetano Veloso - Queixa
Divynils - I touch myself
Manhattan - Kiss and say goodbye
Marisa Monte - Não é proibido
The Fray - Over my head
Trem da alegria - Pra ver se cola
Kid Rock - All summer long
Menudo - Niña Luna
Vinny - Universo paralelo
B5 - Só mais uma vez
The Platters - Smoke gets in your eyes
Erreway - Dije adiós
Zezé di Camargo e Luciano - Fui eu

(todas as músicas hiperlinkadas aqui são ótimas, estão entre as minhas preferidas e eu recomendo)