segunda-feira, fevereiro 11, 2008

6.17 - Jerry MaGuire

[ Jerry Maguire ]



ou Amores e traumas de infância

A copa do mundo de 1994 foi um marco na história. Tanto na história do futebol brasileiro e mundial quanto na minha própria história e de todos os outros garotos da minha "geração". Não foi, digamos, a minha "primeira" copa, mas é a primeira da qual eu me lembro. Os postes da rua onde eu morava com minha família na época se cobriram de verde e amarelo, por iniciativa das mulheres da vizinhança, em que se incluía a minha mãe. Tudo aquilo era novo e bonito demais pra mim, assim como o fascínio que me causava assistir a um jogo.

Nessa época, eu já torcia para o Cruzeiro, por influência do meu irmão, e já dominava os campos de futebol de botão. Foi nesses campos que aprendi a maioria das regras do esporte, e foi em volta deles também, que tive minha primeiras brigas com o meu irmão. Apesar de ser cruzeirense, tinha uma preferência por jogar com o time do flamengo ou o do vasco (porque o Cruzeiro era sempre do meu irmão mais velho). Mais emocionante do que aquele jogo de regras inventadas era todo o ritual que se desenrolava paralelamente. Toda a preparação, o time entrando em campo, os jogadores se aquecendo, a gente realmente fazia daquilo um teatro.

E em 1994 tudo era um pouco mais mágico. Não dá pra imaginar uma vida mais fácil do que quando se tem 6 anos. Naquela copa do mundo eu sabia toda a escalação da seleção brasileira, que incluía pela primeira vez o Ronaldo no alto dos seus 17 anos. Sabia tudo, do Taffarel ao Amarelinho (alguém aí lembra daquele bichinho redondo que aparecia durante as transmissões narradas por Sílvio Luís?). Nos meus cadernos do pré-escolar, as casinhas, árvores e sóis deram lugar a campos de futebol, onde o Brasil vencia a seleção de Camarões, em jogadas estratégicas indicadas passo a passo pelo lápis de cor. O Brasil venceu a copa. Pra mim, foi a primeira vez. É como se o Brasil sempre tivesse vencido.

Os anos passaram devagar. Ainda tive muito tempo pra jogo de botão - adquiri novos times e novas habilidades, que me trouxeram novas medalhas. Eu era um dos melhores da rua, perdendo só pro meu irmão e vez ou outra pra um dos amigos dele, que eram os "caras maiores". Nesse processo, mudei de cidade e de vida. Na escola, não gostava muito de jogar. Os segundos mais terríveis para um garoto são os momentos da escolha do time. E eu nem podia evitar ser um dos últimos a ser escolhido, porque eu não gostava mesmo de jogar. Mas na rua... Na rua em que eu morava eram mais de vinte crianças. E durante os quatro anos em que eu fui saindo da infância até chegar à pré-adolescência, o Futebol fazia parte do meu dia-a-dia. Aos poucos fui percebendo que eu não era lá muito bom com a bola nos pés, mas isso não me impediu de continuar vivendo o futebol a cada dia. Eram sessões de Fifa Soccer (eu e meu irmão sempre escolhíamos as maiores ligas - européias, é claro - e jogávamos por dias a fio), onde o meu Paris St. Germain brilhava, ou meu Werder Bremen era sempre coroado no final. Depois que eu "pendurei as chuteiras", veio meu período de "técnico" do time da rua, nos jogos contra os garotos da rua de cima. Também fui presidente do campinho que construímos num lote vago.E enquanto isso, no colégio, insistiam que eu ainda devia jogar. Era uma lástima. Nos dias em que jogávamos futebol, era sempre uma dor fingida, um médico marcado, uma desculpa qualquer. Só era menos pior nos dias em que jogávamos vôlei ou coisa do tipo. Até hoje eu não sei por que era tão diferente o meu desempenho e comportamento em relação ao futebol na minha rua e na minha escola...

Mas enfim, mudei de novo de cidade. Na escola nova, era futebol 360 dias por ano. Não tinha mais o meu campinho de serragem, nem o meu Fifa Soccer, nem o time da rua de cima pra desafiar. Só os egos dos garotos da minha sala. Abandonei de vez os campos e rompi relações com o futebol. Teria rompido também com o esporte se não fosse o time de voleibol, que me rendeu alguns jogos interessantes e algumas medalhas no currículo. Nessa época, o tempo começou a passar mais rápido e mais rápido eu me distanciei do futebol. O máximo que fazia era torcer pelo Brasil na copa de 2002, ao lado da minha nova turma, ou ao lado dos amigos da minha irmã. Mas não tinha mais o mesmo encanto dos enfeites pendurados no poste... "Brasil é penta... e daí?".
Pelos próximos anos, minha relação com o futebol só foi desaparecendo. E nessa época, também com qualquer outro esporte. Meu lugar era na frente de um computador ou vendo um filme, como todo bom nerd. E assim, perdi todas as outras edições do Fifa Soccer, nem ligava mais pra esses jogos. Preferia mil vezes zerar Tomb Raider do que uma partida de Winning Eleven.

Até 2006.

Foi quando o Barcelona venceu o Arsenal na final da Liga dos Campeões daquele ano. Os times eu já conhecia, pela escalação das edições anteriores do Fifa Soccer, pela passagem dos craques brasileiros por cada um deles, e pelas suas cores. Mas um jogo daqueles eu ainda não tinha visto. E daí por diante, vez ou outra, eu fui me interessando de novo (normal, época de copa), pelo futebol. Principalmente o futebol europeu. Essencialmente o futebol inglês. Não via sempre os jogos, mas acompanhava as notícias. Vi o Liverpool chegando até a final da temporada seguinte.

Da Liga dos Campeões passei para o Campeonato Inglês. Assumia o espírito de rivalidade presente nas torcidas inglesas por alguns minutos por rodada. Eram surtos que eu escondia das pessoas, até porque eu deveria ter continuado a ser o nerd que odeia futebol. Mas não dá pra odiar um jogo do Arsenal ou até mesmo do Chelsea. E simplesmente não dá pra ignorar o que fazem Cristiano Ronaldo, Rooney, Tevez. É mais do que eu posso compreender. É reatar um namoro de infância...

E ainda dizem que isso não tem nada a ver comigo.

Dica de locadora: Jerry Maguire (Jerry Maguire - A grande virada) - Tom Cruise é um agente esportivo que vê sua vida virar de cabeça pra baixo e é obrigado a empresariar um cara que não é muito bom no que faz, mas acha o oposto. Descubra o que é que esse filme tem a ver com o post.
Citação: Gosto a gente adquire novos, por Pedro.
Trilha Sonora: Fields of gold, by Sting

7 comentários:

sblogonoff café disse...

Eu lembro de quando você era marmutinha (na época do casamento do Dinho), você gostava muito de bola. Você adorava bola. Todo mundo dizia: esse menino vai virar jogador de futebol!
Mas depois eu só lembro de você entre os cadernos, os pincéis, a música, os VHS e DVDs, os seriados... Lembro dos campeonatos de futebol de botão no predinho, até do voley e das medalhas eu lembro. Mas
foi surpresa ler aqui que você conhece futebol europeu!!!
Quanto a mim, depois daquele penta, gosto mais de torcer pela Daiane dos Santos!!Rsrs!! E pelas panquecas!!!

sblogonoff café disse...

Mas eu sei que o Pato está bem por lá, sei do Beckham, que me chamou de morena com sotaque baiano (dreaming my dreaming!), sei que o Kaká é o melhor do mundo e que uma cabeça pesa 4Kg. Isso está em Jerry Maguire, não está?!

Otavio Cohen disse...

pra falar a verdade, o Beckham não joga mais na Europa!

sblogonoff café disse...

Obrigada por me atualizar. Pra mim ele ainda estava na Inglaterra! Mas tudo bem, não lembro dele necessariamente como jogador de futebol!!! Isso é um detalhe!

Nathália. disse...

se encontrar com o passado tem tudo a ver com você.
e amo tanto!!

sblogonoff café disse...

eu escrevi dreaming my dreaming! Anéim. Estou perdendo o jeito...

disse...

E olha o gol! GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL!
Futebol na escola... afffffff!
Taí uma coisa boa de ter crescido!
Ow, que dia ce vem? A gente podia marcar uma bolinha? hehehe ^^