quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Frost / Nixon

ou Como "filme bom e barato" e "Ron Howard" podem caber na mesma frase

Tem gente que acredita que filme histórico tem que contar a verdade. Normal confundir História com Realidade, e mais normal ainda defender que filme tem que manter um registro fiel dos fatos. Eu até entendo isso, mas na minha compreensão, filme-fato é documentário. E olhe lá. Nem vou entrar aqui no mérito dos limites - tênues ou simplesmente imateriais, que o diga o cineasta mineiro Kiko Goifman (ver Filmefobia) - entre documentário e ficção. Não pretendo iniciar também uma discussão a la César Guimarães sobre o tema, porque nem acho que posso, e muito menos recorrer a Bazin pra afirmar que história e época também têm seu lugar no neo-realismo, porque não se aplica.

Mas defendo até o fim o mérito de Frost/Nixon (Ron Howard, 2008) , filme baseado na peça homônima de Peter Morgan, ao criar "verdades" que desrefletem a história da política estadunidense para justificar o drama do filme. Vou explicar:

David Frost é um jornalista-estrela carismático e fanfarrão que apresenta programas de auditório na Austrália. Como que por autodesafio, decide comprar uma entrevista com Richard Nixon, o quase-deposto 37º presidente norte-americano, que, lógico, decidiu renunciar, antes de ter sua reputação destruída por causa do escândalo de Watergate (lembrou daquela aula de História ou Teoria do Jornalismo? eu também...). O embate entre Frost e Nixon vai ficando cada vez mais tenso, porque os dois têm muito em comum: possuem uma autoconfiança que beira a arrogância. Por causa de sua experiência política extensa, Nixon sai "ganhando" na primeira bateria de entrevistas (várias foram gravadas, antes que Frost pudesse vendê-las a uma emissora interessada). Eis que Nixon, no auge do uísque, faz um telefonema noturno a Frost e mostra no viva-voz toda a sua vulnerabilidade, por trás da carcaça de político velho de guerra (literalmente, no caso).

Para alguns biógrafos, esse telefonema, que se torna a cena central do filme, em torno da qual toda a trama e subsequente reviravolta circula, nunca existiu. Neste caso, não é redundante falar que foi só licença poética, porque não é só uma mentirinha piedosa. É simplesmente algo que mudou o rumo da história política mundial. No filme, o telefonema e a entrevista do dia seguinte, em que (SPOILLERS!!! to brincando... todo mundo sabe o final da história!) Frost chega aos pontos fracos de Nixon, praticamente originou uma confissão do ex-presidente sobre crimes de estado como acobertação, perjúria e inúmeros procedimentos diplomáticos ilegais. Mas o que mais incomodou os tais biógrafos foi o fato de que Nixon não confessou exatamente POR CAUSA das provocações auspisciosas de Frost. Foi tudo friamente calculado. Vai saber...

No fundo, no fundo, nem é todo o imbroglio historico-ficcional que faz de Frost/Nixon um filme e tanto. Podemos começar pelas atuações. Além do brilhante Frank Langella, eu me surpreendi positivalmente com a performance de Michael Sheen. Seu Frost mulherengo e brincalhão mostrou que também tinha fraquezas e que, como qualquer pessoa, tinha medo do fracasso. Porém, quem brilhou nos prêmios foi Langella. Milhares de indicações, como o Globo de Ouro, o Screen Actors Guild Awards e o Oscar. Sinceramente, acho que ele não ganha não, mas merecer, isso ele merece. Há muito tempo (err, acho que nunca) não via um Langella tão seguro, tão notável "in a leading role". Ainda bem que Ron Howard não reatou o relacionamento com o Russell Crowe, seu former-sweetheart.

Falando em Howard, não foi exatamente uma surpresa ver um filme seu nas listas de prêmios. Mas um filme realmente muito bom que custou só 25 milhões é praticamente uma superação pro diretor. Só pra se ter uma idéia, o anterior e controverso Código da Vinci (Code da Vinci, 2006), custou 125 milhões para a Columbia Pictures. Se desconsiderarmos o filme que era sucesso garantido de bilheteria, tendo em vista o fenômeno que foi o livro de Dan Brown, temos ainda A Luta pela Esperança (Cinderella Man, 2005), que teve um orçamento de 88 milhões. Howard nunca foi o diretor preferido dos críticos mais puristas, mas com Frost/Nixon, que figurou em 9 em 10 listas dos melhores filmes de 2008, parece ter entrado no rol dos diretores de respeito de Hollywood.

Dá pra se divertir com Frost/Nixon. Dá pra ver coadjuvantes de luxo tornando o elenco impecável (temos Kevin Bacon, Sam Rockwell, Michael McFayden, Oliver Platt..). Dá pra ficar em dúvida sobre quem é o melhor... Sheen ou Langella? Será que, depois de tudo isso, dá pra ganhar Oscar? Na minha posição de ter visto ainda poucos filmes indicados a Best Picture, se eu fosse um jurado da Academia, eu diria: "Dá pra fazer!"

Frost/Nixon, 2008
Direção: Ron Howard
Roteiro: Peter Morgan
Elenco: Frank Langella, Michael Sheen, Sam Rockwell, Rebecca Hall, Oliver Platt, Kevin Bacon, Michael McFayden
Duração: 122 minutos
Indicações ao Oscar:
Melhor Filme
Melhor Ator
Melhor Direção
Melhor Roteiro adaptado
Melhor Montagem

*crítica improvisada e mal-escrita.

2 comentários:

Edson Nunes / disse...

Muito interessante a contextualização da "crítica".

Parabéns pelo blog!

sblogonoff café disse...

Bom...
Eu não sei o que dizer!