domingo, outubro 01, 2006

Episode 5.16 [ A Life Less Ordinary ]

Episode 5.16 [ A Life Less Ordinary ]

Remexendo na minha antiga caixa de Lego mais cedo pra poder separar uns bonequinhos pra um trabalho de fotografia, senti repentinamente a alegria infantil que eu tinha toda tarde livre que eu gastei na minha vida construindo um mundo paralelo. Era um mundo perfeito, com romances, super-heróis, monstros e robôs desmontáveis, e algum drama também. Eram os meus primeiros roteiros, imaginados em storyboard com bonequinhos de Lego. Meu sonho era ganhar de natal o resort do Lego que eu via nos catálogos, com um super hotel de luxo, um restaurante. Tudo isso era montado num lugar cheio de pedras e água (que eu, é claro, improvisava com o tanquinho lá de casa). Era o meu cenário preferido para as minhas historinhas. Todos os personagens tinham nomes e conversavam. Cada um tinha a sua história de vida. E cada pecinha era um pedacinho de suas histórias. Tinha o surfista, o rei da praia, tinha a garota que veio da cidade grande, a garota patricinha, a tímida, o cara que trabalhava na oficina mecânica... E tudo era tão simples. Tudo tão encaixável. Mas aquilo que eu criava com pecinhas vermelhas, amarelas e brancas eram mais do que historinhas da cabeça de um menino de 9 anos... eram os meus sonhos, era como eu queria que fosse o meu futuro. Cada um daqueles personagens era tudo o que eu queria ser quando fosse quase um adulto. E veja só o que me tornei. Alguns sonhos ainda existem, embora no fundo eu saiba que nem um décimo deles pode realmente se tornar real. Mas esse texto não é sobre sonhos frustrados, é sobre uma frustração geral com o que eu me tornei. Não que seja ruim, até acho que sou um cara legal e potencialmente feliz. Mas quando você sonha alto demais, você cai. E a queda é inevitável. E é terrível perceber que você, apesar de ser um cara com conteúdo e alguma atitude (deixando de lado a modéstia), seria mais valorizado nesse mundo se fosse o surfista rei da praia. É uma frustração geral com o mundo, que não é um grande resort magnífico com pedras e piscinas. É só uma vidinha que eu aprendi a gostar. E os romances eram tão perfeitos... e as relações familiares, com aqueles conflitinhos de série americana facilmente resolvíveis, mas cujas saídas só se encontra no episódio ou na temporada seguinte... E hoje, cada problema parece ser um pouco maior do que eu pensava que fosse. E os romances nem existem. E os problemas de família são do tamanho de uma pessoa adulta. Talvez eu ainda precise de mais alguns posts (ou dias, ou meses, ou anos...) pra me acostumar com a vida.
O que tenho no momento é uma prova amanhã, um trabalho inacabado, um projeto pra quinta sem tema definido, uma necessidade de um plano B pra minha vida (será que eu tenho um plano A?), um concurso de roteiro, uma insônia alarmante, alguns amigos e uma família legal.

A life less ordinary - Por uma vida menos ordinária: Filme de 1997. Após ser despedido, um faxineiro sonhador resolve reivindicar seu emprego de volta e acaba sequestrando uma bela jovem, que é também a filha do dono da empresa em que trabalhava. Em meio à fuga eles acabam se apaixonando, ao mesmo tempo em que uma dupla de anjos resolve ajudá-los. Dirigido por Danny Boyle (A Praia) e com Ewan McGregor, Cameron Diaz, Delroy Lindo, Holly Hunter e Stanley Tucci.

Soundtrack: Forever Young, by Alphaville

6 comentários:

Origami disse...

Minha vida de Lego virou The Sims e de The Sims, alguma parte já virou vida real.
Se eu pudesse fazer tudo que sonhei, acho que mta coisa boa não teria acontecido. Essas coisas boas que acontecem qdo a gente não espera...
Tô ouvindo Enya aqui agora e absorvendo esse post seu. Pensando em Lego e The Sims e, consequentemente, na minha vida.
Já são 21 anos... isso é relativamente alguma coisa, né?
Então vamos jogar!

disse...

Poxa... There's always some reason to feel not good enough

Anônimo disse...

se é que ajuda alguma coisa essas seriezinhas que vc falou são um sacoooooooooooooooooooo e se sua vida fosse assim influenciaria diretamente quem vc seria, o que implica em várias chances de vc tbm ser ummmmm saaaaacoooo, tendeu?
discordo mil de que quem sonha alto cai, você pode ser o que quiser desde que tudo que vc faça para isso não prejudique nada.
se vc se submeter a "acostumar com a vida" porque vc vai ser mais feliz assim, quem sou eu pra falar alguma coisa. mas se o fizer por exigencia de alguem baseado em nada importante eu vou encher o seu saco pra sempre.
perfeição é relativa mas é monótona quase sempre.

Anônimo disse...

e eu repeti sempre demais, e escrevi meu proprio nome errado. vamos ignorar.

Anônimo disse...

construir as coisas num é tão simples, vc sabe... mas sonhar é importante sempre, e cair tb é importante... apesar de tudo... aí acho q começa aquela coisa de esperança, e de querer as coisas sempre melhores...
os problemas sempre existem, pra todo mundo e se frustrar com o mundo já é uma coisa natural, pelo menos pra mim....
eu tnho uma materia q eh sempre a mesma coisa, discutimos, discute-se, educação e qlqr coisa e calculamos as soluções, vemos q não vai mudar se ninguem fizer nada, mas quem é q qr atirar a primeira pedra?
sei la se isso se enquadra.. anyway... sempre q precisar, to ai cara..... eh soh falar.....
abraços!!

victor disse...

Otávio,
sonhar alto é sempre bom! E as quedas são inevitáveis, são apenas obstáculos (uns grandes, outros nem tanto) no caminho. Imagina se a vida fosse realmente como num seriado americano? Que chatura! (Aliás, não se fazem mais seriados como antigamente! A Marisa morreu!)
Colecionar esses obstáculos, incluí-los entre as pequenas peças multicoloridas é uma maneira de incorporar esse lado "ventura" da vida, que faz parte (e que bom que faz!) dela. Talvez os obstáculos façam parte do sonho original, e você só não tinha se dado conta disso.
Ah, e mundos paralelos são realmente muito legais, e eles também fazem parte desse lugar aqui, que a gente conhece por "vida real", e que é o melhor que eu conheço.
Abraços!