quinta-feira, outubro 25, 2007

6.13 - Rain Man

*post escrito em um dia quente, dias atrás. quando as gotas esporádicas eram só sonhos.


[ Rain Man ]


A chuva se recusa a cair, como se fizesse charme. Como os segundos que antecedem a entrada da noiva. Como a moça que se faz de difícil diante da declaração. Como o blecaute antes do show. Como cada luz apagada antes que seja acesa. Como o último capítulo da novela, como o final (re)(des)velado do vilão, mais esperado que o da mocinha.
A chuva sabe que todos a querem. Nem mesmo os termômetros sabem o quanto está quente. Para eles são apenas números. Para nós, é o chinelo.


A chuva é uma criança que ora chega oportunamente, no meio de uma caminhada, para lavar o cansaço só mostrando os dentinhos - vez ou outra com falhas, portas, janelas, clarabóias... - e ora reage com gritos e ruídos inconvenientes (para quem?) enquanto a platéia assiste quieta ao teatro.
Deixe a criança se levantar, deixe-a falar. Molière não se importa, aposto. Perto de mim ela pode brincar de não ser criança com seu pingüinzinho azul na mão. Ele parece o Menino Maluquinho. É como eu gostaria que fosse meu filho. Do outro lado, a bailarina ainda vestida, que acabou de chegar da aula. A tia a leva ao teatro e ela, com uns sete anos, nem sabe o que está vendo. Mas já basta, é bailarina, brinca de boneca na brisa bela. Toma a Coca-Cola toda, ignorando que a garrafa é quase do tamanho do seu corpo. Já tem arte suficiente impregnada em si. Tanto que nem precisa se calar. Calem-se, adultos. Molière fala às crianças.


O Galpão galopa...


E naquele menino eu vi alguém que eu deveria continuar a ser. Apesar dos trabalhos, seminários, decupagens, reportagens. E eu já não reclamo da vida. Quase acredito na minha fala de que sim, um dia as coisas vão melhorar. Um dia o dinheiro que eu ganho vai dar pra eu pagar aquele curso, aquele tênis e aquela mensalidade no mesmo mês. Um dia vai valer a pena. Tomara que chova amanhã.


Baixa Pressão - Kid Abelha
Cabeça quase nos pés e nuvens

nenhuma chuva
são quase 42 à sombra
nenhuma brisa
Inferno e fogo na luz do dia...
Não faço em que ano estamos

aqui, todo verão é igual
De novo esqueci seu nome
(acho que isso não é normal)

Estou pedindo perdão
pela umidade e a pressão
Já não raciocino e nem respiro mais
E em tudo que você disser
eu vou acreditar
E se você não me quiser, tanto faz
sou capaz de acostumar...

Dica de locadora: Rain Man (Rain Man) - O motivo pra todo e qualquer ser humano ver esse filme tem duas palavras: Dustin Hoffman.
Citação: A thousand miles seem pretty far, but they've got planes and trains and cars...
Trilha sonora: Something Stupid, by Nicole Kidman e Robbie Williams

2 comentários:

Anônimo disse...

Nossa!
Que coisa mais linda!!!
Tomara mesmo que chova!
Sempre é bom molhar e refrescar nossa vida!

Que chova sempre!

Vc escreve muito!!!
É impressionante! Faz da simplicidade das palavras algo tão nobre!
:)

=***

disse...

Tb gostei muito! Deu pra ver a bailarina tomando coca e ficando com a boca marrrom. Não tem nada melhor do que acreditar. Enquanto isso, o sol pisca e manda beijos pra nós aqui embaixo!