terça-feira, janeiro 20, 2009

7.11 - Big

[ Big ]





Eu encontrei uma aranha no meu quarto. Não daquelas aranhas de parede, magrelas, que se mata só de se olhar. E nem daquelas de banheiro, que subiram em mim um dia no banho quando eu tinha uns 6 anos e me causaram um trauma homérico que será curado só com terapia. Pequena, avermelhada. Me fez cuidar dos meus movimentos durante a noite só para não perturbar o sono dela. Me fez prestar atenção no meu quarto, bagunçado até a alma. Uma bagunça que até outro dia eu achava que era importante, por servir de contraponto a uma superfície organizada que eu sempre teimei em mostrar.


E, do nada, pernilongos também invadiram a casa. Sétimo andar... como é que eles chegam até aqui. O problema dessa vida sem problemas que eu resolvi levar, como um jogo do contente de tudo, é a falta do que fazer. A falta de coisas com que me preocupar. Daí preocupo com coisas tão bobas que paro e começo a rir.
Mas no fundo, nem me preocupo com os mosquitos ou aranhas (tá, me preocupo um pouco, é trauma de infância, fobia...). Mas sim com o fato de ser sozinho. Quando olho no espelho do meu banheiro, to ali, uma figura sozinha. Não, não é hora de reclamar de falta de amigos ou amores, isso tudo a gente supera. Aliás, falta de amigos nunca foi um problema pra mim, e não é agora que vou reclamar disso. O negócio é a solidão interior. Nem é aquela que dói. É só uma constatação da minha condição solitária.

Visitei o canil de cachorros outro dia. Sonhei em comprar um pro meu filho. Sonhei com o filho, inclusive. Na cadeirinha do banco de trás do meu carro esportivo no caminho ermo para as cachoeiras inexploradas do país. É o que eu quero da vida. Uma família com mulher, dois filhos (pode até ser três) e um golden retriever bem grande e babento. E um carro. E uma casa. E que tudo isso não demore muito a acontecer.
Porque outro dia eu percebi que só tenho um ano. Um ano e daí, puff, formatura. E viro adulto. Viro gente grande. Já pago minhas contas, já faço minhas compras. Mas não tenho meu próprio plano de saúde. E não penso na economia do lar, nem no leite das crianças, nem nos caprichos da esposa...

Como é que essa realidade que eu sonho pode estar tão longe de mim? Nem eu consigo me levar a sério como um adulto. Apesar de já ter entrado na casa dos 20 eu olho pro mesmo espelho que eu falei antes e eu vejo um garoto. Que espera fazer um filme, tirar carteira de motorista e quitar as dívidas da formatura ainda esse ano. Que espera que não chova amanhã pra poder ir pro clube ou pro cinema. Que espera que os amigos antigos o perdoem pela ausência e que os novos apenas liguem para ele às vezes.

Que espera virar gente grande.

Dica de Locadora: Big - Quero ser grande. Tom Hanks, uma máquina que faz com que ele passe dos 13 aos 30 (sim, ele teve essa idéia antes da Jennifer Garner), um teclado numa loja de brinquedos e um desejo. Será que quando eu for "grande" eu vou querer ter sido "pequeno" mais tempo? Provavelmente, por isso esse ano é O ano...

6 comentários:

Anônimo disse...

ah, vc
sempre muito parecido comigo..

eu vou lembrar de aparecer aqui sempre.
=)

Ruleandson do Carmo disse...

Otávio, pode ser uma cachorra vira-lata? Preciso doar as crias de Lady Di! hahaha Não se sinta só, se faça companhia! Obs.: Ah, o da Jennifer é mais bonitinho que o filme do Tom Hanks! Ela no parque é o melhor! haha Abraço

Lu disse...

Oi, Otávio!!!! Eu tb tenho essas crises direto! Me dá uma certa angústia qdo lembro daquela sábia frase que diz: "a gente nasce sozinho e morre sozinho". Não adianta ter milhões de pessoas em volta. A gente é sozinho sempre.
E enquanto o futuro (com família doriana, carro grande, cachorro e casa) a gente vai sonhando e vivendo.
beijão!!! Texto mto legal!

Lu disse...

errata: "E enquanto o futuro NÃO CHEGA (com família doriana, carro grande, cachorro e casa) a gente vai sonhando e vivendo.

sblogonoff café disse...

Engraçado... Será que sou tão medíocre assim? Sinto saudades de épocas, mas sempre quis ser o que era na hora em que estava sendo. Quando era criança, eu não queria ser adulta. HOje, eu não penso em ser criança novamente, muito menos adolescente!
Sou tudo meio junto, meio misturado, mas sou feliz com meu presente, mesmo que seja esse presente torto que vivo, cheio de loopings.
Aprendi a estar em paz com minha solidão e assim, nem me sinto só.
Sei que sou sozinha na dor, na efusividade da alegria, na efemeridade dessa hora do almoço...
...
Bom, eu quero um labrador e família, de qualquer forma ou formato!

sblogonoff café disse...

Tem resposta pra vc no sblogonoff.