domingo, abril 12, 2009

7.13 - Nick and Norah's Infinite Playlist

[ Nick and Norah's infinite playlist ]
ou como aprendi a gostar de Kid Abelha, The Cranberries, Legião Urbana e Guns N'Roses com meus irmãos

Das características mais valiosas da minha própria personalidade, o ecletismo é a que mais prezo. Assim mesmo, sem nenhuma ressalva de modéstia, gosto de gostar de opostos, como diria o poeta. Não porque acho que é bacana ou cool exercer a tolerância, para que me vejam um pouco mais legal, nem mesmo para tentar, com meus gostos diversos, agradar grupos igualmente diversos de opiniões. Certamente não é pra me aproximar dos góticos new wave do mundo que The Cure é um dos temas da minha vida. Nem mesmo pra exibir minha bagagem cultural sofisticada que escuto os acordes aranhados de João Gilberto. É uma satisfação pra mim mesmo, e só pra mim, poder escutar, na mesma madrugada, uma power balada metal e uma moda sertaneja.

Sim, considero o ecletismo consciente uma preciosidade hoje em dia. Dias em que não há tolerância, nem mesmo entre os que se dizem mais cultos, por torcerem o nariz para o gosto musical do outro. Como fosse decepção descobrir que um amigo, tão notável por sua coleção de vinis da Maria Bethânia, também conservar nos armários um álbum da Blitz. E não, recuso-me a achar engraçado gostar da Blitz ou de qualquer dessas bandas-piada que os anos 80 trouxeram para as terras e palcos brasileiros. Talvez - provavelmente, eu diria - haja graça nas letras, que despertem os sorrisos amarelos dos conservadores que escondem suas intolerâncias musicais preconceituosas, mas não há motivo de riso no gostar em si. Gostar é sentir.

É mais do que possível sentir um milhão de coisas ao mesmo tempo, gostar de um milhão de coisas ao mesmo tempo. Contradições psico-comportamentais? Eu chamaria de riqueza. De virtude. E não falo aqui daquelas pessoas que porventura gostem de tudo o que a indústria fonográfica lhes oferecem, como uma enciclopédia de tudo que há no rádio. Nelas não vejo culpa, apenas um pouco de preguiça. Eu falo sobre quem é fã, ao mesmo tempo, de Menudo e Guns N' Roses. Antes que possam encontrar absurdos em minhas palavras, eu digo que é possível.

É por isso que eu respeito o que eu não gosto, que em termos mundiais, é muito pouco. Se falo mal de um tipo de música, quase sempre é por brincadeira. Reservo-me apenas o direito de não gostar de bandas (leia-se cantores/artistas). Sobre as músicas, é atitude mais do que sensata considerar a todas como uma só arte. Existe arte em cada intento de melodia. É por isso que quem prega o conservadorismo de uma música culta ou mais sofisticada tem uma mente tão pequena quando o intervalo entre duas notas em um chorinho.

Quando tenho que responder sobre minhas preferências musicais, quase sempre hesito, pelo simples fato de que é impossível para mim escolher as músicas de que mais gosto. Há muito deixei cair por terra as etiquetas que insistem em rotular estilos musicais e hoje, não digo que abomino axé music, funk ou sertanejo. Há muito desacreditei nos preconceitos (bons e ruins) que cercam a música que chamam de emo, ou folk rock, ou o diabo-a-quatro que contiver algo além de baixo, bateria e guitarra. Digo, sem timidez, que gosto de música boa. Se The Beatles é hoje a banda que me traz mais satisfação auditiva, amanhã posso gostar menos. Como acontece, de fato. Cada dia minha playlist é diferente, porque meu HD torna-se pequeno demais para suportar minha playlist infinita.

Se um dia eu tivesse uma banda e pudesse escolher despudoradamente o meu repertório, eu pagaria pra ver um show meu. De novo me desapego da modéstia pra dizer que não há fronteiras para as músicas boas. Posso me identificar com os vocais de grande extensão e com os cabelos longos das bandas de hard rock dos anos 80/90, como posso encontrar valor nos arranjos bubblegum-pop de boybands, lampejos de poesia nas melodias country americanas. Em qualquer campo da sociedade - seja na literatura, no cinema, na internet - intolerância é pior do que burrice.

Um pouquinho da minha playlist, neste exato momento:

Bon Jovi - You give love a bad name
Mr. Big - To be with you
The Beach Boys - I get around
Xuxa - Doce mel
Os Paralamas do sucesso - Ela disse adeus
Caetano Veloso - Queixa
Divynils - I touch myself
Manhattan - Kiss and say goodbye
Marisa Monte - Não é proibido
The Fray - Over my head
Trem da alegria - Pra ver se cola
Kid Rock - All summer long
Menudo - Niña Luna
Vinny - Universo paralelo
B5 - Só mais uma vez
The Platters - Smoke gets in your eyes
Erreway - Dije adiós
Zezé di Camargo e Luciano - Fui eu

(todas as músicas hiperlinkadas aqui são ótimas, estão entre as minhas preferidas e eu recomendo)

11 comentários:

Ruleandson do Carmo disse...

Otávio, lembra quando fomos ao show do Sandy e Junior? hehehhee ah pensei que você ia indicar alguma deles, uai!
Eu tô doido pra ver esse filme, quero ver se acho na locadora aqui perto o dvd.
Essa do Zezé di Camargo eu não conhecia e Xuxa eu odeio essa bruxa, mas a "Vivendo por viver" do Zezé di Camargo e Luciano é lição de vida, bebo, canto e choro! Abração!

Henrique disse...

Nem li o post...
mas XUXA?!

Henrique disse...

Eu também gosto de música...
O que não gosto, não considero como música... talvez barulho,. =D

sblogonoff café disse...

Bom, ecletismo consciente...
Eu, por muitas vezes apontei o dedo pro seu gosto musical quando você ouvia boybands. Eu ainda não gosto de nenhuma boyband, pelo direito que me reservo de não gostar! Não gosto de Aguilera, de Beyonce e nem de Jenifer Lopes,não gosto de negonas com uma extensão vocal maior do que a extensão da China! E não gosto de Spears e Paris, apesar de achar que os clipes da BRitney ficaram melhores depois daquelas rebordoses dela. Tem um que achei bacana (eu falando bem dela!!) que é sobre a hipocrisia americana... Não sei que música é aquela. Ela toda vadia numa festa e depois sai pra rua toda comportadinha,com família,casaco nos ombros e uma torta de maça! O tempo aperfeiçoa a gente, nem sempre quanto ao gosto musical, mas em relação aos preconceitos.
Hoje me permito dizer sem medo que gosto de Vitor e Leo. Por enquanto é só, mas gosto deles e sou capaz de ter músicas deles no meu MP3. Gosto de uma e outra música sertaneja.Fui ao show de Sandy e Júnior e adorei! Ouço discos do Menudo, do Trem da Alegria e do Balão Mágico. Ouço Chico, Caetano, Enya e Cranberries. Ouço taquaras rachadas e ouço vozes de veludo.
Eu rejeito alguns sons sim, mas isto é igual papila gustativa.
O importante, no fim, é não rotular.
Rótulo é para produto,é nós não somos produtos e nem sub produtos. Somos identidades num país livre e mais ou menos democrático. Acho que foi isso que você quis passar. Acho que minha mente é maior do que o intervalo entre duas notas de um chorinho pois estamos no mundo muito diverso.
São sete notas com infinitas combinações e batidas e letras... Nesse universo de possibilidades, é feliz quem é livre e respeita!
A gente acaba aprendendo com o tempo!

Gilmar Gomes disse...

doce mel... heuheuhuehuehuee
legal.

axo q meu gosto tb é tão eclético quanto o seu... no meu mp3 (celular) de 1gb, tem desde músicas infantis, gospel, rock, pop, nacionais e internaiconais a rodo, paródias, músicas de comercias dos anos 80 (sim, tenho jingles no celula)... realmente eu nunca consegui aprender a gostar de um tipo só de música... Adoro rock, mas tem dias que prefiro ouvir uma seleção de joão mineiro e marciano... é assim... é a vida.

Otavio Cohen disse...

Exatamente. Não gostar pelo simples fato de não se identificar com uma música ou um estilo ou o que seja, é uma coisa. Agora, achar o negócio ruim de cara, sem nem chegar a ouvir, aí é paia.

victor disse...

Eu tenho três vinis da Bethânia e um da Blitz (talvez dois, se contar com um da minha mãe que eu intento roubar).
Cê andou vendo meus vinis, Otávio?

Eu gosto demais do tanto que cê é sincero ao escrever. Já te falei isso?
Pois é. Pra além da boniteza do texto, acho que a característica que eu mais gosto nos seus escritos é que você se expõe tanto neles.
Pensei em você outro dia quando fui ao teatro aqui. A peça parecia um texto seu, nesse sentido da auto-exposição.
Saudade de te encontrar no hall.

Unknown disse...

irmãos (bem) mais velhos... será esse o segredo do ecletismo inato??? é um dos caminhos, com certeza! vc não está sozinho, tem gente andando por aí com playlists tão contraditórias quanto... eu diria que meu critério pra gostar de uma música é simplesmente... não ter critério. Quer dizer, só um: eu escuto a música. e só depois decido! revolucionário, não? parece com o seu método? deve ser coisa de taurino...

Unknown disse...

Por isso é que eu digo que você deveria dar um chance ao Funk!

hahah!

Charlie Dalton disse...

Guri, a sua playlist é tão bagunçada quanto a minha. Gosto de Calypso (não me batam, por favor! Eu imploro!), do A-ha, do Phil Collins , do Michael Jackson, do B52's, de uma canção do Djalma Pires (Samba de ninar) e também do...

Vamos parar por aqui que a lista é longa.

Eclético, segundo um dicionário, é aquele que usa de várias fontes. Ou seja: o eclético tem a chance de gostar de muito mais coisas, e não se limita porque essa música é daquele ou aquele ritmo.

No meu caso, que faz eu gostar duma música é a mensagem que ela transmite, seja ela cantada ou instrumental. Se eu discordo do que diz a letra ou o que a música insinua, nem escuto.

Parabéns pelo post. O blog do Rob Gordon atrai muito blogueiro de conteúdo interessante.

Charlie Dalton disse...

PS: Quando me referi a "muito blogueiro de conteúdo interessante", me referia também a vc, Otavio Cohen.