segunda-feira, fevereiro 23, 2009

81st Annual Academy Awards

"Que porra é essa?". É o que eu imaginei que muita gente estivesse falando ontem, no início da cerimônia televisionada do prêmio anual da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, os Oscars. Inclusive uma parte lá dentro de mim que teme em ser conservadora também se debateu durante a abertura musical de Hugh Jackman. Mas antes de falar disso, vamos à história.

Sid Ganis é presidente da academia desde 2005. Preso num emaranhado de tradições, entre o glamour e a política, o americano já devia estar cansado do modelo de festa do Oscar, assim como nós. Mas se formos julgar pelos filmes cuja produção foi assinada por ele, é possível que há muito tempo ele já tinha em si o desejo de rodar a baiana. Este ano, que pode ser o último de seu mandato como cabeça da maior academia de cinema do planeta, chegou a sua hora.

Assim, tratou logo de contratar Laurence Mark e Bill Condon (produtor e diretor de Dreamgirls) para produzir a festa. Pela primeira vez desde que eu acompanho o Oscar, a festa não foi só uma cerimônia formal. Foi um filme. Um filmaço. Com cenários espetaculares inspirados em Michelangelo, um roteiro bem mais divertido do que o de costume, um figurino impecável desfilando pelo tapete vermelho, e, é claro, um elenco estelar. Nunca se viu um palco tão pequeno, tão próximo da platéia de astros milionários. Todas as surpresas que Ganis anunciou no dia 22 de fevereiro, ao indicar ao lado de Forest Whitaker em rede nacional os concorrentes, se concretizaram. O que Ganis, Condon e Mark estavam arriscando era simplesmente uma tradição octagenária. Poderia ser um sucesso ou um fracasso.

A escolha de Hugh Jackman fez os ortodoxos cults torcerem o nariz. "Po, ele é o Wolverine!!". Eu, inclusive, falei que não dava pra esperar muita coisa do ator australiano, mesmo que não fosse culpa dele que só lhe metessem em filmes em que ele interpreta ogros rústicos a la Marcos Pasquim. Jackman cresceu e apareceu. E fez bem, cantou bem, o número da abertura ficou realmente bacana. Teve tempo de dançar, atuar, pular, sapatear e ainda cantar em dueto com Anne Hathaway. Falem o que quiser, foi uma idéia genial criar uma atmosfera intimista de espetáculo. Pela primeira vez (vocês ainda vão ler muito essas três palavras neste post) na história, assistir ao Oscar foi assistir a um show. Uma novela com capítulos dirigidos por Judd Apatow (esse cara é muito bom) e Baz Luhrmann. Com voz de tenor, Jackman ganhou meu respeito.

A próxima surpresa da noite, que pra mim foi o auge desta edição do Oscar, foi o anúncio do prêmio de Melhor Atriz coadjuvante. Um videoclipe com algumas das 70 atrizes que já receberam o prêmio surgiu no telão, antes que 5 delas, escolhidas a dedo, representando gêneros diferentes, eras diferentes da história do cinema, ancestralidades diferentes, viessem ao palco para falar diretamente com as 5 indicadas. Nada daquilo "os indicados são", seguido de microvídeos com as ceninhas mais legais das atrizes nos filmes. Cada atriz indicada recebeu uma pequena homenagem de uma oscarizada. O espetáculo se repetiu com os outros 3 prêmios de atuação ao longo da noite. Teve Marion Cotillard anunciando o nome de Kate Winslet, teve Alan Arkin anunciando o nome de Heath Ledger. Maravilhoso!

Os prêmios foram divididos entre blocos temáticos. Os prêmios de montagem e som, por exemplo, foram anunciados em seqüência, os prêmios musicais (pô, Zac Efron??) de trilha sonora e canção original também, assim como os prêmios de direção de arte, num cenário especificamente planejado e muito bonito, feito um camarim da broadway. Tudo parecia muito certo, tão agradável de ver que a gente até esquecia que era o Rubens Ewald Filho que estava falando, e que tinha aparecido no Pre-Show comentando (maldades) do vestido alheio.

Contrariando uma contra-tradição que se estabeleceu nos últimos anos, o filme que ganhou o prêmio máximo do Globo de Ouro também ganhou o Oscar. Quem quer ser um milionário detonou, levando oito estatuetas. O meu medo é que isso cause raiva nos (principalmente nas) fãs do Brad Pitt e seu Benjamin Button. O filme sobre o favelado indiano será um dos últimos a estrear, e já vai chegar no Brasil ganhando inimigos. As pessoas irão ao cinema com resguardas e acharão milhares de defeitos no filme, disso tenho quase certeza. Mas merecido, isso foi.

É óbvio que ainda houve piadas sem graça, textos que pareciam não estar saindo da boca dos apresentadores pela excessiva artificialidade. Claro que ainda existiram imperfeições, uma cortina que não abriu direito, uma apresentação musical meio fraca de Melhor Canção original (o que deixou Peter Gabriel puto da vida). Só que toda a inovação dos números musicais (ponto pro medley de musicais dirigido por Baz Luhrmann estrelado por Jackman, Beyoncé Knowles, Zac Efron, Vanessa Hudgens (High School Musical), Amanda Seyfried e Dominic Cooper (Mamma Mia)) nos distraiu para a imensa obviedade dos premiados.

Com certeza, muita gente ficou desagradada com o show. Sinceramente, o Oscar foi um filme de Tela Quente, de Telecine Premium e não de Telecine Cult como costumava ser. Na minha opinião, neste caso, a escolha foi a mais acertada o possível. Foi o prenúncio de uma era do cinema que aponta pra um universo ainda mais espetacular, cheio de brilhos, cores e músicas. Foi a prova de que filmes blockbuster podem SIM ser interessantes e ter algo a dizer. Foi um tapa na cara dos críticos conservadores, foi a vitória do "there's no business like show business".

Gente, será que vocês não percebem que Hollywood é isso!!! Para ver filmes mais profundos, sérios e densos - não que sejam menos interessantes, muito antes pelo contrário - vá ver o Festival de Cannes (e olhe lá...) ou o Festival de Sundance. Oscar é Holywood, é gente dançando por aí, é o sonho do cinema americano que habitou nossos olhos durante a infância. É o cinema de Marilyn Monroe, James Dean, Marlon Brando (aquele novo, lembra?), Sophia Loren, é o cinema que hoje pertence a Brad Pitt, Angelina Jolie, Nicole Kidman e, sim, Hugh Jackman. É uma festa, é FEITO pra ser uma coisa fútil. É pra ser uma coisa bonita, um festival de vestidos coloridos e queridinhos da América. E, ainda mais sinceramente, se realmente tivesse sido só um prêmio bobo, Benjamin Button teria ganhado*...

Talvez, no ano que vem, quando um novo presidente estiver à frente da Academia, as coisas voltem ao antigo "and the Oscar goes to". Mas a simples ocorrência de uma festa subversiva, no melhor sentido que a palavra pode ter, me alimentou as esperanças de continuar sendo um fã de Hollywood. Há espaço para todos nesta terra de sonhos...

Melhor Filme: Quem quer ser um milionário?
Melhor Filme estrangeiro: Departures (Japão)
Melhor Curta: Toyland
Melhor Longa de animação: Wall-E
Melhor Curta de animação: La maison en petit cubes
Melhor Longa documentário: Man on wire
Melhor Curta documentário: Smile Pinki

Melhor Ator: Sean Penn (Milk)
Melhor Atriz: Kate Winslet (O Leitor)
Melhor Ator coadjuvante: Heath Ledger (Batman - O Cavaleiro das Trevas)
Melhor Atriz coadjuvante: Penélope Cruz (Vicky Cristina Barcelona)

Melhor Roteiro original: Milk (Dustin Lance Black)
Melhor Roteiro adaptado: Quem quer ser um milionário? (Simon Beaufoy)

Melhor Diretor: Danny Boyle (Quem quer ser um milionário?)
Melhor Direção de fotografia: Anthony Dod Mantle (Quem quer ser um milionário?)
Melhor Montagem: Chris Dickens (Quem quer ser um milionário?)
Melhor Edição de som: Richard King (Batman - O Cavaleiro das Trevas)
Melhor Mixagem de som: Resul Pookutty, Richard Pryke, Ian Tapp (Quem quer ser um milionário?)
Melhores Efeitos visuais: Eric Barba, Steve Preeg (O curioso caso de Benjamin Button)

Melhor Direção de arte: Donald Graham Burt, Victor Zolfo (O curioso caso de Benjamin Button)
Melhor Figurino: Michael O'Connor (A Duquesa)
Melhor Maquiagem: Greg Cannon (O curioso caso de Benjamin Button)

Melhor Trilha sonora original: A.R. Rahman (Quem quer ser um milionário?)
Melhor Canção original: Jai Ho, de A. R. Rahman e Gulzar (Quem quer ser um milionário?)

Prêmio Honorário: Jerry Lewis



*Só pra evitar erros de interpretação, não vi o filme pra dizer se é bom ou ruim, ou bobo ou inteligente, só to dizendo que o prêmio pra este filme seria a coroação das pesquisas de opinião do G1, que dariam o prêmio pra Angelina Jolie e pro Brad Pitt pelo que eles são FORA dos filmes, não dentro.


7 comentários:

Anônimo disse...

Não me venha com asteriscos, meu amigo. Vc tem um preconceito proposital com o pobre do Benjamin Button. Mas tudo bem eu agora tb tenho preconceito do milionário que ganhou tudo (odeio super vencedores hehehe).

Mas concordo com a crítica. Essa foi a melhor única cerimônia do Oscar que eu assisti. Destaque para a parte do musical. Assumo com orgulho: adoro futilidades.

sblogonoff café disse...

Eu nem acredito que não vi.
Puft... Branco.
Cheguei de viagem, dormi,pela primeira vez em anos eu não assisti ao Oscar.
Justo agora que foi tão diferente...

Bruna Araújo disse...

Eu ñ vi a cerimonia!!! Mas estou tão feliz com a premiação mas tão feliz!
Não tenho preconceito com o Button mas p quem já me perguntou sobre o que o filme tem de bom eu respondi maquiagem e fotografia - acho q fui justa. Depois que li a crítica do Nuno acho q consegui entender pq ñ gostei tanto do filme. Não me envolveu. Ja o Milionário apesar da estória pouco rica como ja disseram beira a genialidade e é lindo, assim como o Button - ok, here goes the winner.
Yeah! Penn ganhou melhor ator! Sinto muito aos adoradores de Bitt, ele já esteve melhor em outras atuações, a maquiagem pode ter dificultado seus movimentos faciais, rsrs - e os olhos dele eram sempre melancólicos e brilhantes - nada de momentos eufóricos, tristes, iras. um conformismo absurdo me parece - talvez faltou o brilho de uma vida ñ vivida.
Melhor atriz infelizmente ñ tenho base nenhuma p argumentar. Então passo. Atriz coadjuvante Penélope é sempre um show a parte - como ela consegue? Ator coad - ok o curinga (q nem achei tão brilhante quanto foi comentado, esse batman p mim ñ rolou - ainda sobre a sobra do begins).Animação WaLLE merece mas Kung Fu Panda é muito mais divertido ao estilo disney de ser - o WallE fica mais ao estilo Pixar apesar de agora ser tudo igual... explicando, rir sem proposito Panda, rir nas sutilezas WallE.Ja o Bolt, nem vontade de assistir.
Me pergunto sobre a premiação do roteiro original - nem sei, mas milk original? quando?
Efeitos especiais em Button? tá, em alguns mas comparando com batman e homem de ferro achei sacanagem.
Achava que Frost/Nixon merecia um Oscar, mas em que? FIca p outra né coleguinha.
Fora isso tudo, fico triste por ñ ter visto o Oscar numa edição o Show da Vida, ou seja, Fantástico (desculpe a piada).
Queria ver uma crítica sobre os vencedores.. será q rola? Vi algumas coisas de críticas dos comentários durante a premiação mas muito rasas.

Otavio Cohen disse...

Brunita, concordo demais com vc em quase tudo.
Realmente, Milk não tem nada de original. Ou pelo menos não sobre o que eu achava que era o critério para o Roteiro Original. Segundo o que eu sabia, até mesmo se é contando uma história real (como é o caso), mesmo sem ser baseado numa obra publicada anteriormente, o roteiro é uma adaptação. é o que a lógica diz também ne.

Wall-E eu vi ontem. Achei foda. Legal mesmo. Pra falar a real realidade verdadeira, gostei mais de Bolt do que de Kung Fu Panda... Ok, joguem-me pedras, mas to cansando do Jack Black (nunca achei q fosse dizer isso).

E Frost/Nixon merecia sim. só n sei o que. eheh

Unknown disse...

Viada vc viu wall-e sem mim ¬¬


Comentários inevitáveis: Na hora que a Jennifer Aniston tava apresentando o prêmio, as câmeras focaram por 2x a Angelina Jolie (e mais ninguem) com o sorriso indiferente dela. E o casal mais famoso do mundo, Bradgelina, (adorei isso auehaeuha) ficou lá na primeira fila, com toda a atenção e sem nenhum oscar.


Frase inesquecível: "It's not easy being a nun" - Whoopi Goldberg falando para Amy Adams auheuaeh foi muito bom.

Otavio Cohen disse...

também percebi o detalhe da câmera em Angelina. estava eu elucubrando sobre um dia em que Aniston anuncie o Oscar de melhor atriz para o qual Angelina será indicada um dia. daí quando outra qualquer ganhar, Aniston diga um YES igualzinho ao Jack Black quando o filme da Pixar ganhou.

Beatriz disse...

Eu fiquei fula por perder o Oscar. Muito mesmo.
Mas eu devia ter vindo aqui ler alguma coisa antes. Você é mais crítico que todos os críticos que li! Isso é bom.
Enfim, lendo comentários aqui e seu post, agora sei que eu PRECISO ver Button.
Tanta opinião divergente dele me deixa ainda mais curiosa. Enfim.

Que bom que voltou a me ler! Você sumiu de tudos os lugares, e eu perdi I's de novo. Que engraçado você surgir justo agora.